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Sardão
Um lagarto corredor que foge ao perigo subindo às árvores
por ROBERTO DORES
O uso intensivo de pesticidas e o aumento da selva de asfalto são as principais ameaças.
Quem já viu o lagarto ocelado correr pelos campos fora pensa tratar-se de uma espécie de dragão em miniatura, capaz de andar a uma velocidade impressionante sobre duas patas, com o apoio da imensa cauda. As velozes passadas podem ser ouvidas à distância, sobretudo se o sardão, como também é conhecido, se deslocar em terra batida e bem seca. A potência do animal, de aproximadamente 80 centímetros, é de tal ordem, que chega a deixar uma nuvem de pó como rasto.
E este lagarto tem boas razões para correr, sobretudo em regiões da raia portuguesa e espanhola. É que o desaparecimento do coelho provocado pela acção de várias doenças e as alterações ao nível do uso do solo, fez com que esta espécie se tivesse tornado uma presa mais fácil para muitos predadores, como as águias-reais e cobreira, ou alguns mamíferos.
Face aos ataques, poucas alternativas de defesa restam a não ser praticamente "voar", tentando chegar rapidamente ao seu refúgio. Se a perseguição for feita por um animal terrestre, o lagarto tem a capacidade de subir rapidamente a um pinheiro, azinheira ou oliveira, chegando aos ramos mais altos até se sentir a salvo.
Contudo, se a fuga não resultar, e se vir que está encurralado, então adopta uma postura de ataque, elevando a cabeça e o corpo, mantendo a boca aberta, enquanto emite sons ameaçadores. Nos momentos que se seguem, fica atento aos movimentos do seu agressor, vindo a desferir um ataque se o predador se aproximar em demasia, procurando mordê-lo. Se o atingir à dentada, o sardão vai juntar todas as suas forças na mandíbula, que se irá fechar como se fosse uma tenaz. Pode ainda libertar-se da cauda, para surpreender os predadores. Esta volta a regenerar-se mais tarde.
Apesar de se tratar de uma espécie não ameaçada, amplamente distribuída por Portugal, Espanha, França e Itália, os biólogos admitem que em breve isso pode vir a acontecer, devido a uma série de factores que ameaçam a sobrevivência da espécie, considerada "muito importante" para os ecossistemas mediterrâneos.
Entre as maiores contrariedades conta-se a destruição e perda de qualidade do seu habitat. Quem se dedica ao estudo desta espécie aponta os novos olivais, vinhas e culturas de cereais como autênticos "ambientes hostis" para a vida silvestre. Muitos lagartos encontravam refúgio nas fendas das oliveiras e até nos muros de pedra das quintas. Mas hoje a espécie já não pára por aqui, afugentada pela utilização intensiva de pesticidas e pela produção intensiva que impede o crescimento de plantas e a presença de insectos. Também a construção de novas estradas tem colocado em risco o lagarto ocelado - muitos morrem atropelados devido ao hábito de usarem o asfalto para se "estenderem" ao sol.
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