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Forum de Estudantes de Biologia da Universidade do Porto


    Reserva Natural do Paúl do Boquilobo

    Varicela
    Varicela

    Número de Mensagens : 853
    03062009

    Reserva Natural do Paúl do Boquilobo Empty Reserva Natural do Paúl do Boquilobo

    Mensagem por Varicela

    http://naturlink.sapo.pt/article.aspx?menuid=4&cid=4869&bl=1&viewall=true#Go_1

    Reserva Natural do Paúl do Boquilobo, uma zona húmida a cuidar no coração de Portugal
    A Reserva Natural do Paúl do Boquilobo situa-se nas margens do Rio Almonda, um afluente do Tejo, pertence à rede MAP de Reservas da Biosfera da UNESCO e está integrada na lista de Zona Húmidas de Importância Internacional da Convenção de Ramsar.

    A Reserva Natural do Paúl do Boquilobo situa-se no centro de Portugal, nas imediações da Golegã (distrito de Santarém). Localizada numa curva do Rio Almonda, esta reserva consiste numa zona húmida natural de água doce, rodeada por pântanos e situada numa planície aluvial. O paúl é sulcado por numerosas valas, que formam uma intricada malha e regista uma elevada variação no nível da água ao longo do ano. Esta zona é inundada naturalmente no Inverno devido às cheias do Rio Tejo e seca parcialmente quando a água recua na Primavera, criando largas áreas para cultivo. O Paúl pode também actuar como uma zona tampão, contribuindo para uma protecção acrescida às zonas agrícolas adjacentes contra a erosão provocada pelas cheias de Inverno. Durante muitos anos esta zona húmida tem sido um importante baixio, retendo partículas aluviais levadas pelos rios Tejo e Almonda e criando assim uma área extremamente fértil que contribuiu em tempos para o desenvolvimento económico desta zona.

    Flora

    Na parte central da Reserva predominam os habitats naturais ou semi-naturais, distribuindo-se ao longo de cursos de água ou pelas várzeas inundáveis consoante o período de submersão. Ao longo das linhas de água formam-se filas de choupos (Populus sp.), freixos (Fraxinus sp.) e salgueiros (Salix sp.), que formam núcleos densos nas zonas mais inundáveis. As principais espécies arbóreas são Salix alba (salgueiro-branco), S. atrocinerea (salgueiro-preto), S. fragilis, S. rubens, S. salvifolia (borrazeiras), Populus nigra e Fraxinus angustifolius. Nestas zonas ribeirinhas também é possível encontrar exemplares de Crataegus monogyna (pilriteiro), Rubus ulmifolius (silva), Rosa sp. e Tamus communis (norça-preta ou uva-de-cão). Entre as plantas aquáticas dominam os caniçais e os bunhais, principalmente Phragmites australis australis e Scirpus lacustris lacustris. Também são comuns as comunidades herbáceas de gramichão Paspalum paspalodes e mal-casada Polygonum amphibium. Em alguns locais podem ser ainda encontradas em alguma abundância a espadana Sparganium erectum erctum, a Tabua Typha sp., e o lírio amarelo Iris pseudacorus.

    Em zonas inundáveis associadas a actividades agrícolas, surgem pastagens húmidas ou formações dominadas por espécies infestantes e/ou ruderais. As principais infestantes que ocorrem no Paúl são o jacinto de água Eichornia crassipes, planta flutuante que forma densos tapetes à superficie da água, podendo cobrir áreas extensas, e a bardana Xanthium strumarium que coloniza os terrenos lodosos após inundação.

    Outros habitats existentes no Paúl, nos terraços fluviais e nas zonas de transição para as zonas húmidas, são a mata mediterrânea (em formações quase vestigiais), com a presença de sobreiro Quercus suber, zambujeiro Olea europaea var. sylvestris, abrunheiro-bravo Prunus spinosa institoides, roselha Cistus crispus e murta Myrtus communis e o montado de sobro, com prados espontâneos e formações arbustivas sob coberto, de trovisco Daphne gnidium, carrasco Quercus coccifera, aroeira Pistacia lentiscus, murta, Lonicera sp., e gilbardeira Ruscus aculeatus. Ocorrem ainda o carvalho-português Quercus faginea e a azinheira Quercus ilex rotundifolia.

    São ainda de realçar, pela sua raridade, o junco-florido Butomus umbellatus, a estrela-de-água Damasonium alisma e a espada-de-água Sparganium erectum. Estre as espécies aqui existentes, estão presentes no Livro Vermelho das Plantas de Portugal a borrazeira-branca Salix salviflora salviflora, abrunheiro-bravo, gilbardeira e Narcisus bulbocodium.

    Fauna

    As aves constituem o principal valor do Paul do Boquilobo, sendo a principal razão pelo qual é classificado como Reserva Natural. Na Primavera forma-se uma importante colónia de garças e colhereiros, vindas em parte de África. No Outono-Inverno, o paul recebe populações de anatídeos do Norte da Europa, que aqui repousam e se alimentam. São aproximadamente 220 as espécies de aves que aqui ocorrem regular ou esporadicamente, representando 77% dos vertebrados existentes na Área Protegida.

    O Paúl do Boquilobo alberga um maior número de espécies de ciconiiformes que qualquer outro lugar em Portugal. Na família dos ardeídeos, a garça mais comum é a garça-boeira Bubulcus íbis, seguida da garça-branca-pequena Egretta garzetta e do goraz Nycticorax nycticorax. Este foi o único local do país onde se registou a nidificação regular de papa-ratos Ardeola ralloides até 1991, sendo que este ainda pode ser observado esporadicamente. São ainda nidificantes na colónia a garça-vermelha Ardea purpúrea, com cerca de uma dezena de casais e o garçote Ixobrychus minutus. A garça-cinzenta Ardea cinérea é sobretudo invernante, não nidificando aqui. O colhereiro Platalea leucorodia nidifica igualmente em colónia, merecendo também algum destaque, uma vez que o Paúl constitui um dos poucos locais de nidificação desta espécie em Portugal. Todas estas espécies dependem de zonas permanentemente alagadas, instalando-se em maciços arbóreos (principalmente de salgueiros) ou sobre a vegetação aquática emergente como o bunho e caniço, sendo esta mais uma amostra da importância desta Reserva Natural como zona húmida a conservar. A população de cegonha-branca Ciconia ciconia tem vindo a aumentar, sendo esta uma espécie facilmente observável no ninho ou no campo a alimentar-se.

    Tão importante como para as garças e colhereiros, o Paul do Boquilobo é um local por excelência para a invernada de anatídeos. Pelas suas características este é um local priviligiado de refúgio e alimentação para muitas espécies e, em certos anos, o número de aves invernantes atinge os 5 mil. Chegam por volta de Outubro/Novembro, permanecendo durante todo o Inverno. Na Primavera regressam ao Norte da Europa, coincidindo com a chegada das garças ao Paul. As espécies mais abundantes são a marrequinha Anas crecca, o pato-trombeteiro Anas clypeata, o arrábio Anas acuta, o zarro-comum Aythta ferina e o pato-real Anas platyrhynchos. É importante referir a presença da frisada Anas strepera, uma espécies de estatuto raro em Portugal e o facto de este ser um dos poucos locais de nidificação a nivel nacional de pato-de-bico-vermelho Netta rufina (estatuto Vulnerável), marreco Anas querquedula e zarro-comum. Apenas duas espécies permanecem ao longo do ano, nidificando com regularidade, sendo estas o Pato-real e o Zarro-comum. No Paul do Boquilobo os patos refugiam-se principalmente nas várzeas interiores rodeadas de salgueiros e freixos, que, deste modo, promovem protecção e abrigo não só da perturbação exterior como também de factores climatéricos.

    Também as aves limícolas utilizam o paul como local de passagem nas suas migrações, ocupando as zonas temporariamente alagadas. Entre as 41 espécies identificadas, a maioria tem preferência por locais de vegetação escassa, rodeados por água ou próximo desta, de onde obtêm alimentos e também se protegem de eventuais predadores. Nidificam nesta Reserva Natural o borrelho-pequeno-de-coleira Charadrius dubius, o perna-longa Himantopus himantopus e a gaivina-dos-pauis Chidonias hybridus. Esta última espécie encontra no Paul um dos poucos locais em Portugal com condições propícias para a sua nidificação, ou seja, zonas com abundante vegetação aquática flutuante.

    No Paúl do Boquilobo ocorrem, ainda, espécies cujo padrão de distribuição em Portugal é fragmentado e cuja abundância é muito baixa. São o caso da felosa-unicolor Locustella luscinioides, escrevedeira-dos-caniços Emberiza shoeniclus, pica-pau-malhado-pequeno Dendrocopus minor, tentilhão-montez Fringilla montifringilla, maçarico-preto Plegadis falcinellus, a já referida gaivina-dos-pauis, coruja-do-nabal Asio flammeus e águia-pesqueira Pandion haliaetus. Relativamente a esta última, tem sido registada mais frequentemente em anos recentes.

    Em termos de Mamíferos, o Paúl apresenta 27 espécies distintas, sendo de destacar a presenca de duas espécies ameaçadas, a lontra Lutra lutra e o toirão Mustela putorius. São ainda de destacar a presença de rato-de-Cabrera Microtus cabrerae, do rato-cego Microtus lusitanicus, e do morcego-arborícola-gigante Nyctalus lasiopterus.

    A herpetofauna no Paúl é representada por 11 espécies de Répteis e 13 espécies de anfíbios. Os répteis mais abundantes são a cobra-de-água-viperina Natrix maura, a lagartixa-ibérica Podarcis bocagei e a lagartixa-do-mato Psamodromus algirus, destacando-se ainda a presença do cágado-de-carapaça-estriada Emys orbicularis. As espécies mais representativas de anfíbios são a rã-verde Rana perezi, o tritão-marmorado Triturus marmoratus e a salamandra-de-costelas-salientes Pleurodeles waltl sendo de referir ainda a existencia da rela Hyla arbórea e do sapinho-de-verrugas Pelodytes punctatus. A proliferação excessiva do lagostim-do-louisiana (Procambarus clarkii) é dado como um dos problemas ecológicos do Paúl, temendo-se que este crustáceo tenha contribuído para uma diminuição acentuada da comunidade de anfíbios, havendo algumas espécies dadas como praticamente extintas neste local.

    O Paúl apresenta igualmente um interesse relevante para a conservação da fauna piscícola, tanto pela ocorrência de dois endemismos lusitanos (ruivaco Rutilus macrolepidopus e boga-portuguesa Chondrostoma lusitanicum), como pelas condições que oferece à reprodução de diversas outras espécies. Além destas, registam-se a presença de outras 14 espécies, sendo as mais frequentes a fataça Liza ramada, a enguia Anguilla anguilla (estas duas de interesse comercial) e o barbo Barbus bocagei.

    A Reserva Natural do Paúl do Boquilobo foi classificada em 1980 (Decreto-Lei Nº 198/80 de 24 de Junho) e reclassificada em 1997 (Decreto Regulamentar Nº 49/97 de 20 de Novembro). Anteriormente com uma área de 529 ha, a Reserva teve os seus limites alargados a 23 de Março de 2005 (Decreto Regulamentar nº 2/2005), passando assim a abranger também o concelho de Torres Novas, além do concelho da Golegã. Este alargamento de limites é de grande importância, permitindo a conservação de um conjunto de valores paisagísticos, naturais e patrimoniais existentes no concelho de Torres Novas, a noroeste dos antigos limites.

    Este local é o único no País a pertencer à Rede de Reservas da Biosfera, através do Programa MAB - Man and Biosphere - da UNESCO, criado como uma forma de tentar preservar espaços naturais representativos dos principais ecossistemas mundiais. Integrada neste programa em 1981, foi reconhecida a importância da Reserva como zona húmida natural e como local de abrigo para um grande número de aves. Foram também estas as razões que levaram, em 1996, à sua inscrição na Rede de Zonas Húmidas de Importância Internacional da Convenção de Ramsar. A área foi igualmente considerada como Zona de Protecção Especial, ao abrigo da Directiva nº 79/409/CEE, relativa à conservação de aves selvagens e como Important Bird Area pela BirdLife International.

    Entre os problemas ecológicos com que o Paúl do Boquilobo se debate, estão a dispersão descontrolada do jacinto-de-água, a regularização da quantidade de água retirada para efeitos agrícolas, algo que já causou problemas em anos mais secos, e a poluição industrial e doméstica do Rio Almonda. A Reserva Natural também tem uma reserva de caça encostada nos seus limites, algo potencialmente perigoso para as várias espécies de aves que procuram refúgio nesta zona húmida, uma vez que estas não conhecem os “limites” do santuário.

    Uma nova ameaça para a Reserva Natural do Paul do Boquilobo é a construção prevista de um mega-empreendimento turístico junto, se não mesmo dentro, dos limites da Reserva Natural. O complexo “Boquilobo Golf”, uma urbanização com 6.818 vivendas, numa área de cerca de 300 hectares do concelho de Torres Novas, inclui ainda um campo de golfe e áreas destinadas a equipamento, serviços e comércio, num projecto que pretende atrair reformados do Norte da Europa. E há ainda a acrescentar à área do projecto, o necessário às respectivas acessibilidades. Além das perturbações imediatas que irão ocorrer aquando da sua construção, com o constante passar de máquinas pesadas, o barulho característico de qualquer obra e a própria presença humana, há a considerar os potenciais prejuízos após a sua instalação. Estes vão desde os efluentes domésticos que um complexo de 24.000 pessoas produz, à poluição sonora, que irá ter grande impacto num local reconhecido e protegido pelas suas espécies nidificantes. Além de que a presença de um complexo túristico atrai inevitavelmente a construção em seu redor de todo o tipo de lojas de comércio e restauração. O protocolo entre o Município de Torres Novas e a empresa promotora do complexo já foi aprovado pela Câmara Municipal de Torres Novas, e já mereceu o parecer favorável da assembleia municipal. Espera-se, no entanto, que o Ministério do Ambiente e que o próprio ICN se pronunciem sobre o assunto, uma vez que as dimensões do projecto em causa e o impacto que vai causar na área envolvente justificam a intervenção destas entidades. É ainda de obrigatória necessidade um estudo ao impacto ambiental que este empreendimento de desmesurada grandeza irá ter na Reserva Natural.

    Informações e Contactos:

    Quinta do Paul, Brogueira
    Apartado 27
    2350-334 TORRES NOVAS.
    Tel.: (351)249820550. Fax: (351)249820378
    e-mail: rnpb@icn.pt

    A RNPB possui um percurso pedestre com 3 km de extensão (dificuldade fácil), passando por um observatório de aves em posição privilegiada. O Centro de Interpretação situa-se na Sede, à entrada da Reserva Natural
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      Data/hora atual: Qui 28 Mar 2024, 09:47