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    Salvar o cagarro: missão cumprida

    Varicela
    Varicela

    Número de Mensagens : 853
    01112009

    Salvar o cagarro: missão cumprida Empty Salvar o cagarro: missão cumprida

    Mensagem por Varicela

    ver foto aqui http://dn.sapo.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=1407247&seccao=Biosfera

    Iniciativa
    Salvar o cagarro: missão cumprida

    Todos os anos, dezenas de cagarros, desorientados pelas luzes da cidade, morrem atropelados nas estradas dos Açores. À noite, brigadas de voluntários percorrem as praias para os salvar

    20.45. A noite já está cerrada, quando um grupo de 20 pessoas se reúne na praia do Pópulo, São Miguel, para mais uma missão. Objecti- vo: salvar cagarros, a ave maríti- ma mais emblemática dos Açores. Atraídos pelas luzes da cidade e dos automóveis, muitos acabam por morrer atropelados.

    "É importante salvaguardar os cagarros, uma vez que o seu número está em clara regressão", afirma Diogo Caetano, presidente da Associação dos Amigos dos Açores, a associação ecológica que chamou a si a responsabilidade de criar brigadas de salvamento desta ave.

    O cagarro é a ave marítima mais abundante dos Açores, com a peculiaridade de só permanecer nos meses de Fevereiro a Novembro, para acasalar e nidificar. Mas nesse período, as ilhas açorianas tornam-se o lugar mais importante para esta espécie, albergando 74% da população mundial.

    Ave monogâmica, escolhe um parceiro para o resto da vida. Em Outubro, os progenitores abandonam os ninhos, numa migração transequatorial, viajando para regiões tão distantes como o Brasil ou o Uruguai, onde passam o Inverno. Eman-cipados, os juvenis, de tamanho e plumagem já adulta, saem pela primeira vez do ninho, em direcção ao mar, à procura de alimento (peixes, lulas e crustáceos), acompanhando os pais nesta aventura em direcção às terras quentes do sul. "Aqueles que sobrevivem à migração ficam entre cinco e seis anos no mar antes de regressar à colónia de nascimento e demoram pelo menos mais dois ou três antes de nidificar pela primeira vez", explica o biólogo Joël Bried, da Universidade dos Açores.

    Mas os mesmos homens que passam vários noites de Outubro e Novembro a tentar salvar cagarros desorientados nas praias dos Açores, são também em grande parte responsáveis pela diminuição das populações da espécie, predação por mamíferos introduzidos nos habitats (ratazanas, furões, cães e gatos assilvestrados), quer pela destruição dos seus habitats quer capturando algumas aves jovens para alimentação (ver caixa). Mas o maior perigo é outro: "Confundem a luz das estrelas com as luzes artificiais dos carros e das casas, o que acaba por resultar num grande número de atropelamentos", explica Diogo Caetano.

    Todos estes factores têm contribuído para um grande declínio desta espécie, nas últimas décadas, classificada como vulnerável. Para reverter esta situação, a Associação dos Amigos dos Açores (criada em 1995, no âmbito da campanha SOS Cagarro, promovida pela Secretaria Regional do Ambiente e do Mar), está activa anualmente nos meses de Outubro e Novembro.

    "Constituída apenas por voluntários", centra-se nas ilhas de São Miguel e Santa Maria, e todas as noites, em zonas já delineadas, procuram cagarros desorientados ou feridos. Uns são libertados na manhã seguinte; os outros são tratados para posteriormente serem reintroduzidos na natureza. A brigada conta com a ajuda dos Vigilantes da Natureza e do Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR, que se encontra disponível 24 horas por dia, para ir ao encontro de pessoas que encontrem cagarros, ficando com eles e procedendo à sua libertação.

    Este ano, salvaram-se até agora 350 cagarros, mais 150 que no ano passado. "Salvar mais cagarros não é sinónimo de sucesso. O menor número de mortos encontrados e a quantidade de voluntários são os verdadeiros indicadores de sucesso", diz Diogo Caetano.

    O número de aves mortas encontradas foi apenas de 50 e o número de voluntários duplicou, devido à SOS Cagarro. Esta campanha estendeu-se a todas as ilhas do arquipélago, com sessões de sensibilização nas escolas, distribuição de sebentas que explicam como salvar um cagarro. Sensibilização porta a porta e colocação de cartazes reflectores nas estradas, de forma a alertar os condutores para a presença das aves, também ajudaram a consciencializar as populações para a importância desta ave no ecossistema dos Açores.

    "É a espécie mais notável e apaixonante dos Açores", afirma Diogo Caetano. Por isso, hoje, foi instituído, ainda que não oficialmente, o Dia do Cagarro. "Era necessário enaltecê-la."
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