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Investigação
Bactérias perigosas nas gaivotas do porto
Equipa do ICBAS analisou excrementos de gaivotas e constatou que bactérias que podem também ser encontradas no intestino humano apresentavam forte resistência a antibióticos. Deslocação de novas espécies de aves da Galiza para a zona do estuário do Douro está a obrigar as gaivotas a procurar alimentos mais no interior das cidades do Porto e de Matosinhos
O aumento da resistência de algumas bactérias existentes em gaivotas que se estão a deslocar para o interior do Porto - bactérias que também se encontram no intestino humano - preocupa investigadores portugueses, que temem que, em última análise, tal possa pôr em risco a própria saúde humana. Isto porque os excrementos das aves transformam-se num pó muito fino quando secam, que poderá entrar no organismo humano quando espalhado pelo vento.
Este alerta, divulgado no início de Setembro passado, surgiu após um estudo da equipa de investigadores liderada por Paulo Costa, do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) no Porto. Primeiro, a equipa analisou os excrementos de gaivotas que habitam na orla costeira de Porto e Matosinhos, mais em concreto nas praias de Matosinhos e Leça da Palmeira. "Verificámos uma presença muito elevada e diversificada de estirpes da bactéria Escherichia coli (E. coli) que se mostrou resistente a 20 antimicrobianos testados", explica Paulo Costa.
Este investigador do ICBAS explica que esta maior resistência pode trazer complicações sérias à população porque, em caso de doença, "as bactérias podem entrar na circulação sanguínea e tornar o tratamento ainda mais complicado". O aumento da resistência é atribuído em grande parte ao consumo abusivo dos portugueses de antibióticos, mas também a um incorrecto tratamento das águas residuais.
A deslocação das gaivotas para o interior do Porto é explicada por vários factores, como a ameaça da chegada de novas espécies. Segundo Bordalo e Sá, também do ICBAS, "desde o acidente do Prestige [em Novembro de 2002] que se tem registado, no estuário do Douro, um aumento da presença de aves como os patos selvagens, corvos marítimos e garças-reais". Espécies que antes eram avistadas esporadicamente. Segundo este investigador, "as aves competem directamente com as gaivotas pelo espaço e pelos alimentos" numa área que vai desde os molhes do Douro até à barragem de Crestuma.
Descrevendo a luta como um típico caso de sobrevivência do mais adaptado, Bordalo e Sá explica que as gaivotas acabam por ir procurar os alimentos no interior das cidades. Além disso, salienta, "provavelmente, com esta nova ameaça, as gaivotas perderam os seus locais de nidificação e acabam a fazer os ninhos dentro das cidades".
Para Paulo Costa, não se têm notado alterações significativas em relação ao locais de nidificação das gaivotas. "A percepção que tenho é que continuam a nidificar nas escarpas costeiras e a pernoitar essencialmente nas praias de Leça da Palmeira e Matosinhos", explica. "Zonas que são mais abrigadas dos ventos", refere, mas também muito frequentadas pela população, o que agrava o risco de contágio.
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