Desenvolvimento de moléculas perdidas poderá resultar em novas ferramentas terapêuticas
2011-03-22
Por Marlene Moura
Tecido de um tumor na tiróide.
Uma equipa de investigadores portugueses – do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP) e do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Coimbra –, com a colaboração de parceiros de Santiago de Compostela e outras instituições, descobriram “um gene supressor do cancro".
O estudo liderado por Paula Soares, do IPATIMUP, que contou ainda com o seu colega Hugo Prazeres e os investigadores do IPO-Coimbra, Fernando Rodrigues e Teresa Martins, foi recentemente publicado no jornal «Oncogene».
O LRP1B “é um gene que está normalmente presente nas células e cuja expressão pode desaparecer”, ou seja, “quando está presente retém o crescimento do tumor e quando ausente permite o seu desenvolvimento", segundo explicou Paula Soares ao «Ciência Hoje».
Este receptor de lipoproteínas, pertencente à classe dos LDL, existente na membrana celular, tem a função de transportar, por exemplo, o colesterol. O gene LRP1B já “está detectado em determinados tipos de tumores”, prosseguiu a cientista do grupo de Biologia do Cancro. Os resultados publicados sugerem que a perda de LRP1B está relacionada com o aparecimento de cancro.
O modelo estudado, por esta equipa de investigação, foi o carcinoma da tiróide. “Tentamos perceber de que forma é que a perda de expressão deste gene contribui para o crescimento tumoral”, sustentou ainda Paula Soares. O LRP1B não age directamente no tumor, mas em moléculas importantes em diferentes tipos de cancro - o que torna a investigação mais aliciante, tendo em conta que poderá ser aplicada em outros tumores.
Novas terapias
Uma comparação entre tecidos de tiróides normais e cancerosos mostrou que quanto menos LRP1B existisse no tecido tumoral da tiróide, mais agressivo parecia ser. Numa segunda fase, quando os cientistas introduziram o LRP1B nas células cancerígenas, observaram que as células positivas perderam a capacidade de se dividirem e invadirem novos tecidos.
À esta nova descoberta irão seguir-se várias novas possibilidades. Segundo a principal autora do estudo, “por um lado, vamos iniciar um programa financiado pela FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia), para saber em que ambiente é que este gene altera as células tumorais e qual o micro-ambiente onde se desenvolve; por outro, perceber em que outros tipos de tumor há esta expressão” e, se existir, se de facto também há a perda desta.
A ambição, por agora – e após perceber em que tipo de carcinoma existe a expressão deste gene –, é tentar modificar o comportamento tumoral. “Sabemos que existe a possibilidade de sintetizar a molécula de forma a esta imitar a acção normal do gene. O objectivo é reconstruir a acção que se perdeu”, concluiu a investigadora do IPATIMUP. O desenvolvimento destas moléculas poderá, num futuro próximo, resultar em novas ferramentas terapêuticas.
http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=48053&op=all
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